sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PROFISSÃO DJ

O projeto de lei que propõe a regulamentação da atividade de Disc Jockey aguarda a sanção do Presidente

A tecnologia aliada à propagação da cultura de música eletrônica através da mídia tem proporcionado grande aumento do número de disc jockeys em todo o país, inclusive em Pernambuco, tendo em Recife os DJs mais famosos da região Nordeste. A profissão ainda não é regulamentada pelo Ministério do Trabalho. Por isso não há dados concretos a cerca da quantidade de profissionais no estado. Em Recife, atualmente, há pelo menos cinco escolas especializadas que formam dezenas de alunos a cada ano. O projeto de lei que propõe a regulamentação da profissão é de autoria do então senador Romeu Tuma (PTB-SP). O projeto já foi aprovado e aguarda sanção do presidente Lula. Jornada de trabalho e exigência do certificado de qualificação são algumas questões contempladas pelo projeto.

O DJ Robson Santos, de 40 anos de idade e 25 de discotecagem, criou um portal na Internet que cataloga discotecários atuantes em Pernambuco. O site www.portaldjpe.com, que conta com cerca de 15 mil acessos por mês, catalogou, em dois anos, 220 DJs. Segundo Robson, esse número deve corresponder há pelo menos 80% da realidade, pois há os chamados “DJs firma” (donos de casas noturnas e produtores de eventos) que não se cadastram e muitos novatos na área que vão surgindo, além de pessoas que ainda não têm conhecimento da existência do portal.
Anos atrás, a figura do disc jockey era desconhecida por muitos. Ficava escondido atrás de paredes de vidro, em cabines de som chamadas de aquários. O tempo foi passando e a atividade foi tomando uma grande proporção no mercado de lazer. Hoje, nas festas, o DJ é o centro das atenções de todos que estão na pista de dança. Além da música, tem a função de transmitir alegria nos palcos e nas cabines que hoje são montadas em lugar de destaque nas pistas. “Os arquitetos montavam a casa noturna e a última coisa com a qual se procupavam era a cabine. Ainda hoje existem aquários, mas o que se vê mais comumente é a figura do DJ como artista, glamurizado. Há uma necessidade do público de ver quem está discotecando e, em parte, essa visibilidade trouxe uma valorização positiva para a classe. Os produtores colocam fotos e nomes nos flyers (impressos de divulgação dos eventos). Isso torna o profissional mais popular. O glamour da profissão acabou atraindo muita gente para este mercado. A facilidade de acesso às músicas, através de Internet, banalizou o nosso trabalho. Muita gente hoje está no ramo porque virou moda, não exatamente por talento ou amor à música. Muitas vezes a pessoa só quer aparecer. Antes o equipamento era super difícil de operar. Hoje, é tudo muito prático. A tecnologia ajudou, mas bagunçou o mercado;” diz Robson Santos.

O interesse das pessoas por este segmento tem aumentado e mais interessados estão aprendendo a arte da discotecagem. Os veteranos perceberam aí um novo nicho de mercado e passaram a “fabricar” DJs. Um desses exemplos é o Instituto de Música Eletrônica de Pernambuco (IMEPE), que tem no comando Cecília Bradley e o Renato Aguiar, bastante reconhecidos na cena recifense. No IMEPE, são formados cerca de 80 DJs por ano. A Escola Metrópole de DJs (EMME), que funciona na boate de mesmo nome, existe há seis anos e já formou mais de 30 novos discotecários só neste ano, que tocam tanto na própria casa como em outros eventos. Nenhum destes cursos é reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Nem mesmo os que são oferecidos pela Prefeitura da Cidade do Recife, dentro do Programa Multicultural, que existe desde 2001. Com a nova lei, só poderá trabalhar quem tiver o diploma reconhecido pelo MEC ou Sindicato da Categoria, que, no caso, não existe.

Um dos itens que o projeto de lei para regulamentação da profissão de DJ também propõe é o piso salarial. A remuneração neste ramo é extremamente variável. O DJ Popó, de 38 anos de idade e 22 como DJ, afirma que muitas casas no Recife pagam entre R$ 80,00 e R$ 100,00 por festa. “Não existe preço certo para este serviço, existe mercado. DJs mais conhecidos cobram mais. Um DJ renomeado tem um cachê de 2 a 12 mil reais para tocar duas horas;” diz Popó. Da época de baile funk free style, Popó acredita que, com a nova lei, a atividade será moralizada, uma vez que só os profissionais credenciados poderão trabalhar. “Haverá mais espaços para os profissionais da área. A gente se esforça para aprender a mixar, para comprar equipamentos profissionais e aí vem esse pessoal com notebook, instala um software como o Virtual DJ, por exemplo, que faz tudo sozinho, e tira o lugar da gente;” se queixa.

Tanto se popularizou e se facilitou a atividade dos disc jokeys, que os ataques dos famosos às carrapetas dos DJs é cada vez maior. Em Recife, vários produtores de eventos e casas noturnas têm contratado celebridades para assumir as picapes. “Eu não sei o que se passa na cabeça desses artistas que aparecem nas festas como DJ. Acho que não precisam disso porque são famosos e, em tese, estão bem financeiramente. De qualquer forma, o fator principal hoje para ter sucesso na cabine de som é feeling para a pista. Acho que tudo é válido, se o cara mantém a pista cheia e vibrante é o que importa. O público é que define se um DJ é bom ou não, independente se é profissional. Muito menos que a prática para mixar, saber tocar a música certa na hora certa é fundamental”; opina o pernambucano Robson Santos, que trabalha no MP Bar, no bairro de Candeias. Segundo a empresária Maria do Céu, proprietária do clube Metrópole, a contratação destas celebridades é garantia de casa cheia. “Eles tocam com um DJ da casa, que dá apoio e segura a onda, evitando que eles cometam algum erro grave”; conta.

O empresário Canário Calliari, sócio de Maria do Céu, defende a regulamentação da profissão. “Eu não assino a carteira de todos os meus DJs, só de alguns, os que trabalham não só no fim de semana, mas também nos dias úteis, cuidando da manutenção dos equipamentos. No caso, assino como operador de áudio ou técnico de som. Sou a favor da regulamentação porque acho justa a valorização do profissional e a garantia de seus direitos;” afirma Canário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário